sábado, 24 de abril de 2010

Brasília e eu


Brasília me persegue: mal eu faço aniversário e logo ela vem e empata comigo. Assim, chegamos nós, aos cinqüenta anos. Alguns desses anos de vida, mais precisamente na minha adolescência, eu passei na capital. Foram dias muitos felizes nessa verdadeira babel dos nossos tempos. Pude fazer parte e testemunhar a salada de culturas, a mistura de sotaques nos seus mínimos detalhes: desde a simples brincadeira de bolinhas- de- gude, passando pelas pipas, pelo bete, pela carniça, até figuras lendárias, já próprias do folclore local, como o famigerado “graminha”, um(ou vários) fiscal sem coração, que confiscava e muitas vezes furava as bolas dos peladeiros, que se atreviam em mostrar o talento futebolístico nas imensas e maravilhosas áreas verdes da cidade. Nós, os pretensos craques dos meados dos anos setenta, tínhamos um campeonato muito importante na cidade. O futebol dente-de-leite podia ser assistido na TV. Sempre aos sábados um programa apresentava um compacto com os melhores lances de várias partidas, para delírio dos atletas e de seus pais babões...
Nesse período, Brasília ainda não tinha revelado uma produção musical própria, porém, já demonstrava uma personalidade, um bom gosto musical naquilo que consumia, com uma cara roqueira, cosmopolita, jovem e moderna . Assim, pudemos Assistir aos Secos e Molhados, Carlos Santana, Jackson Five ...Ouvíamos rádio (ainda AM)trocávamos revistas e fitas cassete: Slade, Novos Baianos,Black Sabbath,Gil, Caetano, Pink Floyd, Chico Buarque, Diana Ross, Marvin Gaye, Yes,Supremes e muitos outros. Já no começo dos oitenta, a qualidade do som melhorou bastante, com a chegada das FM. Até hoje, quando piso na cidade, sempre vem na lembrança a música “Alto astral”, da Cor-do-Som, misturada com o cheiro do café que a minha mãe fazia, e o cheiro próprio das manhãs brasilienses. Simplesmente inesquecível! Também nos anos oitenta, essa geração que já tinha um gosto e percepção mais antenados, passa a ter vida expressão próprias. Assim começam a despontar o Aborto Elétrico, que mais tarde viria a dar origem a Legião Urbana e Capital Inicial, a Plebe Rude, O grupo “Cabeças”,Paralamas do Sucesso, Oswaldo Montenegro, Cássia Eller, Zélia Duncan e mais recentemente o genial chorão Hamilton de Holanda e o rapper Gog. Vale ressaltar, que, como eu, a esmagadora maioria dos citados, não é composta de candangos nativos, e sim, de pessoas que, de alguma forma, adotaram,(e/ou) foram adotados e passaram a amar a cidade. Apesar das mazelas, das diferenças sociais, da robalheira, dos conchavos e maracutaias... Vida longa, Duque catorze, minha querida quadra. Vida Longa Brasília!