Era maio de 1974 e eu era um adolescente que gostava muito de música. Na medida em que se aproximava o grande show, eu andava cada vez mais tenso. O dia quatro estava chegando e eu não estava nem perto de conseguir metade do mil Cruzeiros exigidos pela caderneta de poupança Colméia,(se não me falha a memória) para que eu pudesse “conseguir “ o ingresso do um dos shows mais esperados do ano: Michael, Marlon, Randy, Tito e Jermaine, ou seja, o Jackson Five em carne e osso, cantando na cidade. O Michel era apenas um ano mais velho que eu, havia um mais novo que ele e era fantástico saber que jovens da minha geração, já faziam sucesso e tinham um encaminhamento profissional e eu nem sabia o que queria da vida.Suas músicas embalavam as nossas festinhas de domingo no PREVI, como chamávamos carinhosamente o clube dos Previdenciários, o qual freqüentávamos na qualidade de “penetras” honorários. Acho que foi a única coisa que eu consegui dançar em toda a minha vida, aquela dança quase parada, muito mais pra amasso,que pra dança. As primeiras tentativas de conquistas amorosas. Como era bom sentir o corpo de uma garota bem juntinho...
O dia quatro passou como uma tormenta. Eu via os meus amigos saindo cedo da “Duque quartorze” , nossa querida super quadra em Brasília, as meninas com as sua melhores roupas, visual caprichado. A marmanjada, todos arrumadinhos, com seus inseparáveis KICHUTES, seus jeans US TOP, ou suas calças de cetim. Com certeza, levando mais uns trocados no bolso para tomar um CRUSH. As mães faziam as últimas recomendações, algumas até da janela dos apartamentos mais baixos. Os pais mais cuidadosos e que tinham carro, levavam pessoalmente seus filhos e filhas pro dito show. Eu ali, embaixo do bloco, liso e desconsolado. Acho que todos foram, não sobrou ninguém (pelo menos visível) para conversar. Fiquei jogando uma partida de xadrez quase interminável, comigo mesmo e o tempo foi passando. O zelador do bloco, um nordestino rabugento ouvia um poderoso rádio TRANSGLOBE , igual ao da minha mãe. Como para aumentar o meu martírio, só tocava preciosidades: ABC,Ben, Music and Me, Got you be there... Ao mesmo tempo em que eram músicas extremamente prazerosas de se ouvir, aumentavam a minha angústia – I’D LIKE TO BE THERE! De repente, uma notícia extraordinária: O equipamento do conjunto Jackson Five embarcou com muito atraso no Rio de Janeiro...(eu dei um pulo , que desarrumou o tabuleiro )... o show de Brasília seria realizado no dia seguinte, às dezoito horas, e o mais importante - de portões abertos... Comecei a dar saltos cada vez maiores e socos no ar, como o Pelé, quando comemorava os seus gols. E olha que ainda teria uma boa grana para os refrigerantes e sanduiches... O zelador não entendeu nada, mas, acho que gostou da minha mudança de humor, que até me ajudou a catar as peças do jogo de xadrez. Mais tarde, fiquei olhando da janela do apartamento a chegada da turma. Eles ainda estavam confusos sobre os acontecimentos. Havia dúvida se no dia seguinte eles teriam apenas o seu dinheirinho na poupança. Eu não falava nada. Simplesmente, fazia um sinal de positivo com o polegar e tinha uma única certeza: no outro dia, eu estaria lá muito cedo.
No dia seguinte, fiz uma coisa que eu nunca tinha feito na vida. Almocei as onze horas da manhã . Ao meio dia eu já estava no Ginásio de Esportes, que, naquela época, ainda nem se chamava Nilson Nelson. Os portões ainda nem estavam abertos oficialmente, mas, já havia algum tumulto e nós fomos tentar uma outra alternativa que pudesse garantir logo a nossa presença no evento: conseguimos pular a janela de um dos banheiros e depois de percorrer os labirintos internos do ginásio, garantimos um bom lugar. Não sei porquê, ainda assim houve atraso, o que aumentava a ansiedade de todos. Para descontrair, a turma entoava algumas paródias e motes, quase todos ofensivos ao pessoal da Asa Norte, que até então era minoria. Nunca me esqueci de uma que era mais ou menos assim: a turma da Asa Norte é que é legal/ só dá menina doida e marginal/ agora eu vou ficar na minha/ vou dançar macumba e jogar minha bolinha... é claro que havia uma outra versão bem mais pesada pra insuportável musiquinha gravada pela dupla Deni e Dino chamada Eu te amo meu Brasil. As brincadeiras já estavam se esgotando e a impaciência chegando quando finalmente apagaram as luzes do ginásio e então deu-se a mágica: luzes coloridas, um som muito mais poderoso que aquele amplificador gradiente lá do PREVI, que nós achávamos até então, o máximo. Os rapazes entraram no palco e uma gritaria ensurdecedora, que momentaneamente ofuscou aquelas toneladas de equipamento, bendito equipamento, que graças a sua permanência demorada no Rio, me permitiu estar ali, naquele momento. Eles começaram com algumas mais rápidas, guardaram as baladas mais conhecidas para o auge do show. Quando o Michael começou a cantar Ben, foi um festival de beijos. Até gente que nem se conhecia entrou na onda do beijo. Eu acabei não sendo premiado, pois estava rodeado de marmanjos, não tinha pelo menos uma feiosa por perto. Nesse dia nem fez muita falta, o fato de estar ali, naquele momento, era o que importava, a magia de um grande show. Mal eu sabia, que seria seduzido por ela pro resto da minha vida. Depois da tempestade, enfim veio a bonança. O meu anjo da guarda havia dado um jeito de me ajudar...
O dia quatro passou como uma tormenta. Eu via os meus amigos saindo cedo da “Duque quartorze” , nossa querida super quadra em Brasília, as meninas com as sua melhores roupas, visual caprichado. A marmanjada, todos arrumadinhos, com seus inseparáveis KICHUTES, seus jeans US TOP, ou suas calças de cetim. Com certeza, levando mais uns trocados no bolso para tomar um CRUSH. As mães faziam as últimas recomendações, algumas até da janela dos apartamentos mais baixos. Os pais mais cuidadosos e que tinham carro, levavam pessoalmente seus filhos e filhas pro dito show. Eu ali, embaixo do bloco, liso e desconsolado. Acho que todos foram, não sobrou ninguém (pelo menos visível) para conversar. Fiquei jogando uma partida de xadrez quase interminável, comigo mesmo e o tempo foi passando. O zelador do bloco, um nordestino rabugento ouvia um poderoso rádio TRANSGLOBE , igual ao da minha mãe. Como para aumentar o meu martírio, só tocava preciosidades: ABC,Ben, Music and Me, Got you be there... Ao mesmo tempo em que eram músicas extremamente prazerosas de se ouvir, aumentavam a minha angústia – I’D LIKE TO BE THERE! De repente, uma notícia extraordinária: O equipamento do conjunto Jackson Five embarcou com muito atraso no Rio de Janeiro...(eu dei um pulo , que desarrumou o tabuleiro )... o show de Brasília seria realizado no dia seguinte, às dezoito horas, e o mais importante - de portões abertos... Comecei a dar saltos cada vez maiores e socos no ar, como o Pelé, quando comemorava os seus gols. E olha que ainda teria uma boa grana para os refrigerantes e sanduiches... O zelador não entendeu nada, mas, acho que gostou da minha mudança de humor, que até me ajudou a catar as peças do jogo de xadrez. Mais tarde, fiquei olhando da janela do apartamento a chegada da turma. Eles ainda estavam confusos sobre os acontecimentos. Havia dúvida se no dia seguinte eles teriam apenas o seu dinheirinho na poupança. Eu não falava nada. Simplesmente, fazia um sinal de positivo com o polegar e tinha uma única certeza: no outro dia, eu estaria lá muito cedo.
No dia seguinte, fiz uma coisa que eu nunca tinha feito na vida. Almocei as onze horas da manhã . Ao meio dia eu já estava no Ginásio de Esportes, que, naquela época, ainda nem se chamava Nilson Nelson. Os portões ainda nem estavam abertos oficialmente, mas, já havia algum tumulto e nós fomos tentar uma outra alternativa que pudesse garantir logo a nossa presença no evento: conseguimos pular a janela de um dos banheiros e depois de percorrer os labirintos internos do ginásio, garantimos um bom lugar. Não sei porquê, ainda assim houve atraso, o que aumentava a ansiedade de todos. Para descontrair, a turma entoava algumas paródias e motes, quase todos ofensivos ao pessoal da Asa Norte, que até então era minoria. Nunca me esqueci de uma que era mais ou menos assim: a turma da Asa Norte é que é legal/ só dá menina doida e marginal/ agora eu vou ficar na minha/ vou dançar macumba e jogar minha bolinha... é claro que havia uma outra versão bem mais pesada pra insuportável musiquinha gravada pela dupla Deni e Dino chamada Eu te amo meu Brasil. As brincadeiras já estavam se esgotando e a impaciência chegando quando finalmente apagaram as luzes do ginásio e então deu-se a mágica: luzes coloridas, um som muito mais poderoso que aquele amplificador gradiente lá do PREVI, que nós achávamos até então, o máximo. Os rapazes entraram no palco e uma gritaria ensurdecedora, que momentaneamente ofuscou aquelas toneladas de equipamento, bendito equipamento, que graças a sua permanência demorada no Rio, me permitiu estar ali, naquele momento. Eles começaram com algumas mais rápidas, guardaram as baladas mais conhecidas para o auge do show. Quando o Michael começou a cantar Ben, foi um festival de beijos. Até gente que nem se conhecia entrou na onda do beijo. Eu acabei não sendo premiado, pois estava rodeado de marmanjos, não tinha pelo menos uma feiosa por perto. Nesse dia nem fez muita falta, o fato de estar ali, naquele momento, era o que importava, a magia de um grande show. Mal eu sabia, que seria seduzido por ela pro resto da minha vida. Depois da tempestade, enfim veio a bonança. O meu anjo da guarda havia dado um jeito de me ajudar...